7 de abr. de 2010

A invenção da infância (2ª Parte)


O que é ser criança?

Ser criança é ter o direito de brincar de forma criativa e imaginária consequentemente desenvolvendo-se de forma natural e completa, ser estimulada sabiamente em processos esportivos, lúdicos etc, ser reconhecida e obter conhecimento desta importância, pois sem fugir de processos naturais ela vai se tornar adulta e também vai iniciar outra criança, pois como vimos no documentário, algumas crianças pulando etapas e se tornando adultos precoces através de trabalhos remunerados (Bahia) ou através de estafantes rotinas (São Paulo), como por exemplo: Ir à escola, jogar tênis, fazer ballet etc.

Introdução
Essa proposta de trabalho visa conceber a 2ª infância em visão mais abrangente possível, para que entendamos todos os processos imbricados nessa fase, tomaremos como um ponto norteador o documentário: “Inventando a infância”, o mesmo mostra vivências diferentes de crianças de um estado do Nordeste e um estado do Sudeste brasileiro, diferente mais que se agrupam, se imbricam num sistema que ajuda a responder duas perguntas muito complexas e que demandam um entendimento abrangente de várias áreas. O que é ter infância? O que ser criança? . O sistema financeiro capitalista tem como uma de suas características marcantes a separação por classes sociais, que às vezes nos impede de perceber as coisas de uma maneira mais conjunta, com isso, utilizaremos como “pano de fundo” o Surrealismo, que tem como uma de suas características impactantes a aproximação das coisas; a aproximação, por exemplo, de fatos que ocorrem no estado de São Paulo e no estado da Bahia.
“Uma paixão negativa, de destruição e de recusa de quanto entrave a integral apropriação pelo homem do seu próprio mundo e do mundo que o circunda; portanto, a destruição e a recusa de toda a legislação, de todos os tabus sociais, patrióticos ou religiosos, e muito particularmente, os preceitos sexuais pedagógicos, hierárquicos, exigindo-se e proclamando-se a virtude do escândalo, da revolta, do sacrilégio (FORTINI, 1980.”
Classificação convencional da idade cronológica:

Infância: de 02 a 10 anos, sendo que, de 02 a 03 anos é um período de aprendizagem, de 03 a 05 anos infância precoce, de 06 a 10 anos infância intermediária / avançada.


Anatomia e fisiologia na 2ª infância (Maturações)

Crescimento

Altura: O processo de crescimento desacelera após os primeiros dois anos, mas mantém um nível constante ate a puberdade. O crescimento ósseo, no inicio da infância é dinâmico, e o sistema esquelético é particularmente vulnerável à má nutrição, à fadiga e a doenças. O processo de ossificação ocorre em ritmo rápido no inicio da infância sendo retardado em até três anos no crescimento em crianças que sofrem privações.

Peso: A criança tem uma diminuição gradual do tecido adiposo, à medida que progridem além do período inicial da infância.
Proporções corporais: As proporções corporais alteram no inicio da infância, por causa dos vários ritmos de crescimento do corpo. O peito gradualmente torna-se maior do que o abdome, e o estomago fica menos saliente.
Sistema fisiológico: O cérebro atinge cerca de 75% de seu peso adulto por volta dos 03 anos de idade e quase 90% dele por volta dos 06 anos e o córtex cerebral só se desenvolve por completo aos 4 anos de idade.

Visão: O globo ocular apenas atinge seu tamanho total aproximadamente aos 12 anos de idade, certas sessões de retina não estão completamente desenvolvidas ate os 06 anos de idade, e a criança pequena geralmente sofre de hipermetropia.
Paladar: A criança tem maior sensibilidade ao paladar, pois tem mais papilas gustativas do que os adultos e estão generosamente distribuídas na face interna da garganta, bochechas e língua.

Desenvolvimento da 2ª infância:

A segunda infância é um período ideal para que a criança se desenvolva e refine grande número de tarefas motoras, desde os movimentos fundamentais do início da infância até a habilidade esportiva do período intermediário.
Brincar é o que as crianças pequenas fazem quando não estão comendo, dormindo ou obedecendo à vontade dos adultos, as brincadeiras ocupam a maior parte de suas horas despertas e isso pode, literalmente, se considerando como o equivalente ao trabalho para elas à brincadeira serve como importante facilitador do crescimento cognitivo e afetivo da criança e também no desenvolvimento das habilidades motoras refinadas como rudimentares.
Segundo Piaget (1982), que estuda a 2ª infância dos 07 aos 10 anos, ele relata que todas crianças nessa faixa etária percorrem quatro fases do desenvolvimento cognitivo. Para o autor, o período que corresponde à segunda infância é denominado estágio das operações concretas e seria caracterizado pela existência de um pensamento lógico, no qual a razão passa a nortear a maior parte das atitudes da criança.

A Fisiologia do Exercício na 2ª infância e alguns cuidados com a iniciação esportiva.
Nas considerações de TANI, FERRAZ & TEIXEIRA (1991), muitas modalidades esportivas exigem o desenvolvimento de capacidades físicas que não deveriam ser enfatizadas na infância. Em linhas gerais, os treinamentos específicos, nos quais o componente predominante é o metabolismo anaeróbio láctico, ou seja, atividades em debito de oxigênio levam a criança a atingir elevados níveis de freqüência cardíaca e lactacidemia muscular e sanguínea. Isso é atingindo com esforço acima de 80% do VO2 máximo previsto para a idade e duração entre 45 segundos e 3 minutos, esforço para o qual muitas vezes a criança não está preparada (TOURINHO FILHO & TOURINHO, 1998). Além disso, a atividade anaeróbia láctica provoca acentuada liberação de catecolaminas, ocasionando, em decorrência, vasoconstrição no sistema vascular e na musculatura cardíaca. De acordo com TANI et al.(1991), a criança ainda não tem condições de aumentar significativamente a força de contração da musculatura cardíaca para vencer a resistência vascular periférica aumentada. Com o trabalho anaeróbico láctico nas crianças, corre-se o risco de provocar uma hipertrofia precoce da musculatura cardíaca, que limita o seu potencial físico Maximo, além de predispor o individuo a uma futura hipertensão arterial (NEGRÃO 1980).

O Profissional de Educação Física: Intervencionista sábio e agrupador de vários conhecimentos!

Como já vimos, o profissional de Educação Física é de grande importância em iniciações esportivas não somente na 1ª e 2ª infâncias, mas em todas as faixas etárias, isso consequentemente demanda que ele seja atualizado, visionário e, contudo um agrupador de boas idéias das várias áreas do conhecimento, ciente, porém de que não é o “sabe tudo” e que às vezes é necessário recorrer a intervenções de outros profissionais. O Profissional de Educação Física tem ao seu dispor várias referências de diferentes áreas, um professor criativo pode agrupá-las e proporcionar uma bela experiência para seu aluno até nas modalidades esportivas.
Atividades práticas

Segundo Maria Rodrigues no livro Manual teórico-pratico de Educação Física Infantil, aborda diferentes atividades a serem trabalhadas de acordo com a idade especifica e seu desenvolvimento. E segundo GIMENEZ & UGRINOWITSCH (----) “A abordagem desenvolvimentista apresenta como conteúdos atividades que visam ao aprimoramento ou aquisição de habilidades motoras. Entre as estratégias que podem ser utilizadas, encontram-se as atividades rítmicas, as atividades de auto-testagem e o jogo (...)”.

Até 03 anos
Atividades que proporcionam o conhecimento do próprio corpo, conhecimento de espaço e objetos em sua volta. Estimular o processo de coordenação motora.
Habilidades a serem trabalhadas: Habilidades básicas como andar, saltar, rolar e saltitar.
Exemplos: Andar em uma linha reta.

03 a 06 anos;
Alto desenvolvimento da psicomotrocidade, pois a mesma sempre experimenta o seu limite e descobertas do novo. A coordenação “olho-mão” pés é intensa e já é capaz de obedecer até 2 a 3 atividades, já tem domínio do seu corpo. Atividades que desenvolvam conhecimento de noção de tamanho, direção, profundidade, peso, altura velocidade.
Habilidade a ser trabalhada: Os mesmos movimentos de 03 à 06 anos, porém mais acentuados, ou seja, andar, saltitar, rolar, trepar.
Através de jogos individuais, pois ainda são egocêntricos.
Exemplos: Atividades rítmicas, como rodas simples e dança folclóricas.

06 a 08 anos;Analisando a postura através do trabalho, visando às qualidades físicas básicas, para desenvolver a coordenação da dinâmica geral e o alinhamento postural.
Habilidades a serem trabalhadas: Tem que ser trabalhado a força, resistência, velocidade e equilíbrio.
Exemplos: Jogos compartilhados. Pois o egocentrismo começa a diminuir e a criança começa a ter espírito de equipe.

08 a 10 anos;Aumenta o crescimento proporcional em todo o corpo, que favorece a força funcional dos membros assim aguçando a vontade de competir com o outro.
Habilidades a serem trabalhadas: Deixam as habilidades gradualmente das básicas e passam para habilidades técnicas especificas. Como rolamento, estrela, parada de mão e cambalhotas.
Exemplos: Atividades de solução para um problema, ou seja, estimular a criatividade. Elevar a ter um estilo próprio

Fatores que influenciam o crescimento

“O crescimento é um processo biológico, de multiplicação e aumento de tamanho celular, expresso pelo aumento do tamanho corporal. Todo indivíduo nasce com um potencial genético de crescimento, que poderá ou não ser atingido, dependendo das condições de vida a que esteja submetido desde a concepção até a idade adulta”. (Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil / Ministério da saúde; Secretaria de Políticas de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2002).
Fatores extrínsecos que influenciam o crescimento.


Várias visões de desenvolvimento

Para o pediatra, surge a definição do livro de texto que diz: “(...) desenvolvimento é o aumento da capacidade do indivíduo na realização de funções cada vez mais complexas”. O neuropediatra certamente pensará mais na maturação do sistema nervoso central e consequente integridade dos reflexos. O psicólogo, dependendo da formação e experiência, estará pensando nos aspectos cognitivos, na inteligência, adaptação, inter-relação com o meio ambiente, etc. O psicanalista dará mais ênfase às relações com os outros e à constituição do psiquismo.

E para o profissional de educação física, o que é desenvolvimento?

Para responder parcialmente esta pergunta podemos utilizar dois de vários tópicos geradores, como por exemplo: Corporeidade e Surrealismo, A corporeidade é a interação do homem, no e com o mundo e o Surrealismo nos vem como a apropriação integral e efetiva também do homem pelo mundo que o circunda, sendo assim o profissional de educação física pode ser um analisador de um processo de desenvolvimento como um todo, tanto extrinsecamente quanto intrinsecamente.
Com relação ao filme, podemos dizer que apesar da precariedade do lugar são crianças do nordeste que vivem uma verdadeira infância, pois tirando o fato de trabalhar para ajudar os pais no sustento do lar, elas têm seu momento de lazer onde podem brincar. Ao contrario das crianças da capital que em seu tempo de lazer estão dançando ballet, jogando tênis, ou seja, atividades impostas pelos pais que direcionam os filhos para essas atividades para que estes possam no futuro optar por alguma dessas atividades como profissão e muitas das vezes não é o que a criança quer para ela.
Rousseau (1712-1771)nos da uma idéia de respeito a criança em meio a recreação, ele diz que recreação é a "Liberdade total da criança, não se deve obrigar o aluno a ficar quando quiser ir, não constrangê-lo a ir, quando ficar onde esta. O aluno deve ser educado por e para a liberdade. É preciso que saltem, corram, gritem quando tiver vontade."

Bibliografia

SCHMIDT, Richard A. Aprendizagem e performance motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema. 2ªed. Porto Alegre: Artmed Editora , 2001

GALLAHUE, David L. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3ª ed. São Paulo: Phorte, 2005.

RODRIGUES, Maria. Manual teórico-pratico de educação física infantil. 5ª ed. São Paulo: Ícone Editora, 1989.

Ofício de professor: aprender mais para ensinar melhor. 4ºed. São Paulo: Editora Abril, 2003.

BRASIL, Ministério da saúde. Secretaria de política de saúde. Departamento de atenção básica. Saúde da criança: acompanhamento do crescimento infantil. Brasília: Ministério da saúde, 2002.

GIMENEZ, Roberto & UGRINOWITSCB, Hebert. Iniciação esportiva para a segunda infância. Conscientiae saúde. Revista cientifica, UNINOVE - São Paulo v. 01:53-60.

FORTINI, Franco. O Movimento Surrealista. 2ªed. Editorial Presença, 1980.

Cláudia Terra Nascimento
Profª. Ms. Subst. da Disciplina de Psicologia da Educação/UFSM.